Mais um trabalho meu de Psicanálise que libero para vocês....
A Resistencia, a Transferência e a
Contra Transferência são conceitos fundamentais para a psicanálise. Este
trabalho tem por objetivo revisar os principais pontos de cada um destes
fundamentos que estão presentes em diversos textos de Freud.
A palavra “resistência”, na
psicanalise, toma um sentido singular merecendo o status de conceito central. As “resistencias”
são repetições de defesa realizadas pelo paciente em sua vida que age através
do ego. A Resistencia é um mecanismo inconsciente ligado à parte do eu regida
pelo prinicipio da realidade, que procura saidas contra a invasao dos elementos
indesejáveis provenientes do proprio inconsciente e dos recalques, isto é,
quanto mais pressionado o eu, mais fortemente o paciente desenvolve e se apega
a resistencia. Ela é uma atitude de oposição às descobertas do analista,
atrapalha o trabalho terapeutico, pois funciona como uma barreira na elucidação
dos sintomas e na evolução do tratamento.
A transferencia, assim como a Contra transferencia,
sofreram modificações conceituais no decorrer da obra de Freud, a teoria da
transferenmcia se articula necessariamente com a da contratransferemncia. A
“transferencia” aparece do contato emocional do paciente com a situação
analitica.
Freud dizia que o
dominio deste assunto era consequencia das experiencias nos atendimentos na
clinica e da propria analise do analista, tida por ele como “necessidade
fundamental”.
1.
Compreendendo a
Resistência
A primeira vez que este
termo foi usado, foi no relato do caso clinico da Sr.ª Elizabeth Von R, Freud
escreve o seguinte: “No curso desse
difícil trabalho, comecei atribuir maior importância a resistência oferecida
pela paciente na reprodução de suas lembranças”. (FREUD. 1893-1895. p.178).
No livro “Hipnotismo”, Freud menciona a
resistência como obstáculo para a hipnose e afirma que “sempre que surge uma intensa resistência contra o uso da hipnose,
devemos renunciar ao método e esperar que o paciente, sob a influência de
outras informações, aceite a ideia de ser hipnotizado”. (FREUD. 1891-1987. p.125)
Freud pode verificar
que as recordações esquecidas não haviam se perdido, mas mantinham-se detidas
por uma força que, denominou resistência. Neste momento, encontramos o “ponto
de virada” do método catártico para o método psicanalítico, essa “virada”, se
completa com a publicação de “A
Interpretação do Sonho”, quando se notam que o conceito de recalcamento
adquire posicionamento mais preciso através da distinção entre inconsciente e
consciente, ambos entendidos como sendo sistemas psíquicos (TOMASELLI.s.d.).
Ele pensava que a causa da resistência era a ameaça ao aparecimento de ideias e
lembranças desagradáveis, que haviam sido reprimidas, para evitar a dor, mas
que se mantinham na memoria, e acontecia para evitar dor, vergonha, culpa.
Freud foi abandonando
as técnicas de hipnose, e passou a investir na livre associação do paciente,
sem constrangimento, sem culpa, sem criticas, rumo à criação da própria
psicanalise.
De acordo com Conedera
(2009), Freud complementa sua exposição dividindo-as em cinco tipos.
2.
Tipos de Resistências
São cinco tipos de
resistências que procedem de três direções: do ego, do ID e do superego.
(CONEDERA. 2009)
2.1
Resistência
do Ego – é a fonte de três, cada uma diferindo em sua
natureza dinâmica: a resistência da repressão, a resistência da transferência e
a resistência do ganho secundário.
2.1.1
Resistencia
da Repressão – que poderia ser considerada a
manifestação clinica da necessidade do individuo de se defender de impulsos,
recordações e sentimentos que, se emergissem na consciência. Causariam um
estado de sofrimento ou ameaçariam causar tal estado.
2.1.2
Resistencia
da Transferência – semelhante resistência da repressão,
possui a qualidade de, ao mesmo tempo em que a exprime, também faz refletir a
luta contra impulsos infantis que, sob forma indireta ou modificada, emergiram
em relação á pessoa do analista.
2.1.3
Resistencia
do ganho secundário – que deriva do ganho resultante da
doença. Embora, inicialmente, o sintoma possa ser sentido como corpo estranho e
indesejável, pode ocorrer, e muitas vezes ocorrem, um processo de assimilação
do sintoma na organização psicológica do individuo.
Segundo Freud, “O ego passa agora a comportar-se como se
reconhecesse que o sintoma tivesse vindo pra ficar, e a única coisa a fazer é
aceitar a situação, sem afligir-se, e tirar dela a maior vantagem possível”
(FREUD.1926).
Esses ganhos secundários
oriundos dos sintomas são bem conhecidos sob a forma de vantagens e
gratificações obtidas da condição de estar doente e de ser cuidado ou ser
objeto de compadecimento dos outros, ou sob a forma de gratificação de impulsos
agressivos vingativos para com aqueles que são obrigados a compartilhar o
sofrimento do paciente.
2.2
Resistencia
do ID – esta necessita de elaboração, devido à
resistência dos impulsos instintuais a qualquer modificação no seu modo e na
sua forma de expressão.
2.3
Resistencia
do Superego – está enraizada no sentimento de culpa
do paciente ou na sua necessidade de punição. Freud considerava esta
resistência como a mais difícil de analisar, discernir e abordar, pois ela
reflete a ação de um “sentimento inconsciente de culpa” e é responsável pela
reação aparentemente paradoxal do paciente a todo passo que, na analise,
represente a materialização de um ou outro impulso que vão se defendendo
pressionados pela consciência moral.
Mesmo
assim, Freud descreveu os tipos e fontes das resistências da seguinte maneira:
“Não se deve supor que essas correções
nos proporcionem um levantamento completo de todas as espécies de resistência
encontradas na analise. A investigação ulterior do assunto revela que o
analista tem de combater nada menos que cinco espécies de resistência, que
emanam de três direções – o ego, o ID e o superego” (FREUD.1926).
Existe uma forte relação entre
resistência e recalque, a resistência mantém a ideia incompatível fora da
consciência, portanto, mantem a ideia recalcada. O conceito de recalque se
apresentou a teoria psicanalítica por meio do fenômeno da resistência , que
aparece com o abandono da hipnose.
A
resistência pode ser considerada, com relação ao recalque, a manifestação
exterior desse mecanismo de defesa, cuja função é manter fora da consciência
uma repressão ameaçadora. Quanto mais o trabalho analítico se aproxima de uma
representação recalcada, maior e mais intensa é a resistência contra esse
trabalho. (VENTURA, 2009)
Freud
chega a conclusão de que todo pensamento recalcado são desejos e que este sim,
sofrem recalque. São desejos que de alguma maneira não podem se realizar e por
isso, são recalcados. O desejo fica retido no paciente, e assim, o sujeito não
tinha conhecimento dele, era um desejo não reconhecido como próprio, um desejo
inconsciente. (MACHADO, 2003)
3.
Transferência
Termo usado pela
primeira vez por Freud em 1895, como uma forma de resistência, um obstáculo no
processo analítico. Porém foi em 1912 que ele publicou a primeira obra dedicada,
exclusivamente à transferência, intitulada “A
Dinâmica da Transferência” na qual ele explica que ela não se deve ao
tratamento psicanalítico, mas é devido a neurose, explica que se a necessidade
de amar de um individuo não é totalmente satisfeita pela realidade, ele irá se
aproximar de cada pessoa que conhecer, por isso, para Freud, a transferência é
um dos elementos fundamentais para caracterizar o método do tratamento
analítico.
Freud conceitualiza a
transferência ao afirmar que “Transferências
são reedições, reduções das reações e fantasias que, durante o avanço da
análise, costumam despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a
característica de substituir uma pessoa anterior pela pessoa do medico. Dito de
outra maneira: toda uma serie de experiências psíquicas previas é revivida, não
como algo do passado, mas como um vinculo atual com a pessoa do medico. Algumas
são simples reimpressões, reedições inalteradas. Outras se fazem com mais arte:
passam por uma moderação do seu conteúdo, uma sublimação. São. Portanto,
edições revistas, e não mais reimpressões.” (FREUD, 1969, vol.7, p.109)
Segundo Laplanche e
Pontalis, a transferência é entendida como: O processo pelo qual desejos
inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo
de relação estabelecida com ele e, eminentemente, no quadro da situação
analítica.
A transferência é o
deslocamento do objeto interno (feridas, perdas de amor e etc.) para a figura
do analista, ou seja, o paciente vê no analista o objeto interno e passa a
nutrir por ele os mesmos sentimentos que nutria pelo objeto no passado, é necessário
que seja observada tanto pelo analista quanto pelo analisando, mesmo porque, a
transferência poder ser positiva ou negativa, isto é, pode ser fonte de
progresso ou de resistência, pois ela vem pra satisfazer as necessidades
inconscientes do analisando.
A transferência é uma
condição para que o tratamento ocorra, isto é, sem a transferência não existe
êxito no tratamento analítico, inclusive, essa transferência é esperada e
desejada pelo analista, pois sua presença permite a descoberta, bem como a
compreensão, das fantasias do inconsciente do analisando.
4.
Tipos de
Transferências
São três tipos de
transferências, descritas por Freud em 1912: a negativa, a erótica e a
positiva. Sendo que a negativa e a erótica eram as que traziam dificuldade no
processo terapêutico, enquanto a positiva auxiliava.
4.1
Transferência
Negativa – é a transferência de sentimentos hostis, podendo
representar também uma forma de defesa contra o aparecimento da transferência
positiva, podendo coexistir com ela.
4.2
Transferência
Erótica – é a transferência de amor, quando o analisando
diz estar apaixonado pelo analista. O foco das sessões será o amor que o
analisando entende ou exige que deva ser retribuído. O analisando acaba
resistindo a analise e coloca suas defesas em pratica para não se lembrar de ou
admitir certas situações passadas.
4.3
Transferência
Positiva – é a transferência de sentimentos de simpatia e
afetividade conscientes e também inconscientes, sendo este ultimo de natureza
erótica.
Freud escreve o
seguinte “Transferência positiva é ainda
divisível em transferência de sentimentos amistosos ou afetuosos, que são
admissíveis à consciência, e transferência de prolongamentos desses sentimentos
no inconsciente.” (FREUD.vol.12, 1912, p.140)
Freud também escreve que “Cada associação isolada, cada ato da pessoa
em tratamento tem de levar em conta a resistência e representa uma conciliação
entre as forças que estão lutando no sentido do restabelecimento e as que se
lhe opõe, já descritos por mim.” (FREUD.vol.12, 1912, p.115)
As transferências positivas e negativas precisam
coexistir, esta é a condição para o tratamento psicanalítico. Freud aponta que
nas psiconeuroses, sentimentos afetuosos e hostis, conscientes e inconscientes,
ocorrem lado a lado e são dirigidos simultaneamente
5.
Contra Transferência
Embora
tenha reconhecido a sua existência e a necessidade de mantê-la sob rigoroso
controle, Freud não deixou nenhum estudo sistematizado sobre a
contratransferência.
No trabalho de 1912,
Freud conclui que o médico tenta compelir o paciente a ajustar seus impulsos
emocionais ao tratamento e a história da sua vida, submetendo-os a consideração
intelectual e a compreendê-los à luz de seus valores psíquicos, e que “esta luta, entre o medico e o paciente,
entre o intelecto e a vida instintual, entre a compreensão e a procura da ação,
é travada, quase exclusivamente nos fenômenos de transferência.”
Assim como a
transferência, a contratransferência também foi vista como uma manifestação
indesejável, algo inadequado, um obstáculo a ser vencido no tratamento, o conceito
de contratransferência foi introduzido por Freud que o definiu da seguinte
maneira “surge no medico como resultado
da influencia que exerce o paciente sobre os seus sentimentos inconscientes”.
(FREUD, 1969. P.125)
Ele ainda completa “nos sentimos quase inclinados a insistir em
que ele deve reconhecer estar contratransferência existente em si mesmo e
superá-la.” (FREUD, 1969. P.125)
Segundo Laplanche e
Pontalis (2001) o fenômeno da contratransferência se ampliou depois de Freud,
principalmente à medida que o tratamento foi sendo compreendido enquanto uma
relação e também com a expansão da psicanalise a novos campos, a analise de
pacientes psicóticos e de crianças, onde as reações inconscientes do analista
podiam ser mais solicitadas.
Posteriormente, Freud
percebeu o valor da contratransferência e recomendava o seguinte “o analista deve voltar seu próprio
inconsciente como um órgão receptor para o inconsciente transmissor do
paciente, de modo que o inconsciente do medico possa, a partir dos derivados do
inconsciente que se comunicam reconstruir o inconsciente do paciente.”
(FREUD, 1969. P.149)
A contratransferência é
um conjunto de sentimentos do analista em relação ao analisando. A reação
emocional do analista às projeções do analisando é um instrumento a ser
compreendido pelo analista, que para ser usado, o analista deve ser capaz de
controlar os sentimentos que nele foram despertados, ao invés de, como faz o
analisando, descarrega-los. Ela pode ser estimulada pelas projeções do
analisando, inclusive, por seus componentes de transferência.
O analista pode,
inconscientemente, exprimir suas projeções amorosas ou hostis não resolvidas e
ele pode reagir à transferência com a contratransferência negativa, motivo pelo
qual tem que ser eliminados mediante analise didática. A analise didática é
imprescindível a qualquer psicanalista, para este ser tratado e fugir dos
perigos da contratransferência negativa.
CONCLUSÃO
De acordo com o estudo realizado,
pude aprender que a resistência, a transferência e a contra transferência são
conceitos centrais na compreensão da relação terapêutica nas diversas vertentes
da psicanalise. A resistência é um obstáculo ao processo analítico e ao mesmo
tempo possibilita o curso do tratamento, é um mecanismo de defesa que aparece
na tentativa do analisando encobrir ou proteger-se de lembranças dolorosas ou
como uma repetição de uma relação passada.
A
transferência foi sendo reconhecida por Freud, a medida que os pacientes
repetiam na sua vida a relação com o analista aquilo que já haviam vivido na
infância com outras pessoas.
A
contratransferência é a mais controversa e complexa até hoje, apesar de ser
algo, muitas vezes, inevitável, por isso a necessidade de se manter o terapeuta
em constante tratamento.
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