Um explicação breve sobre Mecanismo de Defesa e a Livre Associação.
Livre
Associação é um método terapêutico por excelência da psicanalise, que Freud o desenvolveu em substituição ao hipnotismo no tratamento
das neuroses.
Mecanismo
de defesa é o que usamos para nos proteger do sofrimento, inconscientemente,
pois nem sempre estamos preparados para lidar com algumas questões da nossa
vida.
1 – Mecanismo de Defesa
São
processos inconscientes que permitem a mente encontrar uma solução para
conflitos não resolvidos ao nível da consciência. A psicanálise supõe a
existência de forças mentais que se opõem umas às outras e que batalham entre
si. Freud utilizou a expressão pela primeira vez no seu "As neuropsicoses de defesa", de
1894.
O
Mecanismo de defesa é usado para proteção do sofrimento, porém para amadurecer
e crescer, chega um momento em que a pessoa precisa deixar de usar seus
mecanismos para poder enfrentar seus conflitos. Como isto ocorre
inconscientemente, ou seja, a pessoa nem percebe que usa, o primeiro passo é
identificar quais os mecanismos que ela esta usando para se proteger e não
encarar o conflito.
Os mecanismos de defesa mais importante são:
1.
Negação – é quando o sujeito se recusa a
ver sua participação em um problema que acontece com ele ou se recusa a
reconhecer que um evento ocorreu. É comum, diante de situações de
enfrentamento. Na sua forma completa, a negação é totalmente
inconsciente, e o indivíduo pode ficar tão perplexo com o
comportamento das pessoas ao seu redor como essas pessoas estão pelo
comportamento dele. Esse mecanismo de defesa também pode ter um elemento
consciente significativo, onde a pessoa simplesmente “faz vista grossa”
para uma situação desconfortável.
Exemplo:
-
Alcoólatras que negam vigorosamente que eles têm um problema.
- Um homem ouve que sua esposa foi morta, e ainda se recusa a acreditar,
ainda arruma a mesa para ela e mantem suas roupas e outros acessórios no
quarto.
2. Repressão - é afastar ou recalcar da
consciência um afeto, uma ideia ou apelo do instinto. Um acontecimento que por
algum motivo envergonha uma pessoa pode ser completamente esquecido e se tornar
não evocável.
Exemplo:
- Uma criança que é abusada por um dos pais e, mais tarde, não tem
lembrança dos acontecimentos, mas tem problemas para formar relacionamentos.
3. Defesa de reação (formação reativa)
- que consiste em ostentar um procedimento e externar sentimentos ambos opostos
aos impulsos verdadeiros, quando estes são inconfessáveis.
Exemplo:
-
Um pai que é pouco amado, recebe do filho uma atenção por vezes exagerada para
que este convença a si mesmo de que é um bom filho.
-
A pessoa é muito tímida, e ao ir numa festa, se torna a pessoa mais
extrovertida possível.
4. Projeção
– é o mecanismo que atribui ao outro um desejo
próprio, ou atribuir a alguém, algo que justifique a própria ação.
Exemplo:
- O estudante cria o hábito de colar nas provas dizendo, para se
justificar, que os outros colam ainda mais que ele.
5. Regressão
- é o retorno as atitudes passadas que provaram ser seguras e gratificantes, e
às quais a pessoa busca voltar para fugir de um presente angustiante. Devaneios
e memórias que se tornam recorrentes, repetitivas. Aplica-se também ao regresso
a fases anteriores da sexualidade.
Exemplo:
-
mulher que volta a brincar de boneca após passar por um conflito
6. Substituição
- O inconsciente, em suas duas formas, está impedido
de manifestar-se diretamente à consciência, mas consegue fazê-lo indiretamente.
A maneira mais eficaz para essa manifestação é a substituição, isto é, o
inconsciente oferece à consciência um substituto aceitável por ela e por meio
do qual ela pode satisfazer o Id ou o Superego. Os substitutos são imagens
(representações analógicas dos objetos do desejo) e formam o imaginário
psíquico que, ao ocultar e dissimular o verdadeiro desejo, o satisfaz
indiretamente por meio de objetos substitutos.
Exemplo:
- a chupeta e o dedo, para a
substituição do seio materno.
Além dos substitutos reais, o imaginário
inconsciente também oferece outros substitutos, os mais frequentes sendo os
sonhos, os lapsos e os atos falhos. Neles, realizamos desejos inconscientes, de
natureza sexual. São a satisfação imaginária do desejo.
Exemplo:
- Alguém sonha que sobe uma escada, está num
naufrágio ou num incêndio. Na realidade, sonhou com uma relação sexual
proibida.
7. Sublimação
- É um dos mecanismos que mais consegue seu intuito de proteger o sujeito de
dor. Porque, diante de uma impossibilidade esse mecanismo cria outras formas de
satisfação possíveis. A Ética pede a renúncia às gratificações puramente
instintuais por outras em conformidade com valores racionais transcendentes. A sublimação constitui
a adoção de um comportamento ou de um interesse que possa enobrecer
comportamentos que são instintivos de raiz Um homem pode encontrar uma
válvula para seus impulsos agressivos tornando-se um lutador campeão, um
jogador de futebol ou até mesmo um cirurgião.
Para Freud as obras de arte, as ciências,
a religião, a Filosofia, as técnicas e as invenções, as instituições sociais e
as ações políticas, a literatura e as obras teatrais são sublimações, ou modos
de substituição do desejo sexual de seus autores e esta é a razão de existirem
os artistas, os místicos, os pensadores, os escritores, cientistas, os líderes
políticos, etc.
Exemplo:
- Se a pessoa quer ser famosa, mas percebe que isso
é uma realidade muito distante, ela escolhe uma profissão e estuda para ser
reconhecida em sua área. Geralmente para sublimar o sujeito utiliza, em
conjunto o deslocamento.
8. Transferência
- Freud afirmou que a ligação emocional que o
paciente desenvolvia em relação ao analista representava a transferência do
relacionamento que aquele havia tido com seus pais e que inconscientemente
projetava no terapeuta.
O impasse que existiu nessa relação
infantil criava impasses na terapia, de modo que a solução da transferência era
o ponto chave para o sucesso do método terapêutico. Embora Freud demorasse a
considerar a questão inversa, a da atratividade do paciente sobre o terapeuta,
esse problema se manifestou tão cedo quanto ainda ao tempo das experiências de
Breuer, que teria se deixado afetar sentimentalmente por sua principal
paciente, Bertha Pappenheim.
9. Deslocamento
- consiste em transferir as características ou atributos de um determinado
objeto para outro objeto
Exemplo:
-
receber uma bronca do chefe e, assim que chegar em casa, chutar o cachorro como
se ele fosse o responsável pela frustração.
Os mecanismos de defesa são
aprendidos na família ou no meio social externo a que a criança e o adolescente
estão expostos. Quando esses mecanismos conseguem controlar as tensões, nenhum
sintoma se desenvolve, apesar de que o efeito possa ser limitador das
potencialidades do Ego, e empobrecedor da vida instintual. Mas se falham em
eliminar as tensões e se o material reprimido retorna à consciência, o Ego é
forçado a multiplicar e intensificar seu esforço defensivo e exagerar o seu
uso. É nestes casos que a loucura, os sintomas neuróticos, são formados.
Para
a psicanálise, as psicoses significam uma severa falência do sistema defensivo,
caracterizada também por uma preponderância de mecanismos primitivos. A
diferença entre o estado neurótico e o psicótico seria, portanto, quantitativa,
e não qualitativa.
10. Perversão - Porém,
assim como a loucura é a impossibilidade do Ego para realizar sua dupla função
(conciliação entre Id e Superego, e entre estes e a realidade), também a
sublimação pode não ser alcançada e, em seu lugar, surgir uma perversão ou
loucura social ou coletiva.
O nazismo é um exemplo de perversão, em vez de
sublimação. A propaganda, que induz no leitor ou espectador desejos sexuais
pela multiplicação das imagens de prazer, é outro exemplo de perversão ou de
incapacidade para a sublimação.
11. Racionalização
- o sujeito tenta utilizar a inteligência pra justificar suas ações e ou seus
sentimentos ou possíveis decisões que possa ter tomado. É um processo pelo qual
o sujeito procura apresentar uma explicação coerente do ponto de vista lógico,
ou aceitável do ponto de vista moral, para uma atitude, uma ação, uma ideia, um
sentimento, etc., cujos motivos verdadeiros não percebe.
Exemplo:
-
Eu checo se fechei a porta de casa três vezes antes de sair, e às vezes ainda
volto quando já estava na metade do caminho, mas faço isso porque preciso
deixar minha casa em segurança. (A desculpa da segurança pra maquiar o vicio obsessivo
de checar incontroladamente seus próprios atos, como um ritual).
2 – Livre Associação
A
Livre Associação é o método terapêutico da psicanalise que Freud inventou em
substituição ao hipnotismo no tratamento das neuroses. Começou a utilizá-la no
tratamento de Elizabeth Von R. que solicitou que Freud a deixasse associar
livremente, sem pressão pela busca de uma memoria ou lembrança especifica.
Freud
diz que a Livre Associação e os sonhos formam o que ele chama de via regia para
o inconsciente.
Com
o método da Livre Associação o paciente é orientado a dizer o que lhe vier à
cabeça, deixando de dar qualquer orientação consciente de seus pensamentos, é
necessário que ele se obrigue a informar literalmente tudo o que ocorrer à sua auto
percepção, não dando margem a objeções criticas que procurem por certas
associações de lado, com base no fundamento de que sejam irrelevantes ou
inteiramente destituídas de sentido.
Freud
em seu Estudo Autobiográfico (1925) lembra-nos que devemos ter em mente que
esta associação não é realmente livre, pois o paciente continua sob a
influencia da situação analítica, muito embora não esteja dirigindo suas
atividades mentais para um assunto especifico, nada lhe ocorrerá que não tenha
alguma referencia com essa situação.
O
paciente através da Livre Associação, tem a sua resistência contra a reprodução
do material reprimido que será revelada por objeções criticas, e foi para lidar
com tais objeções, que a regra fundamental da psicanalise foi inventada. Mas se
o paciente observar essa regra e assim superar suas reservas, a resistência encontrará
outro meio de expressão. Tal regra a disporá de tal forma que o próprio material
reprimido jamais ocorrerá ao paciente mas somente algo que se aproxima dele de
maneira alusiva; e quanto maior a resistência, mais remota da ideia real, da qual
o analista se acha à procura.
O analista, que escuta serenamente,
mas sem qualquer esforço constrangido, à torrente de associações e que, pela
sua experiência, possui uma ideia geral do que esperar, pode fazer uso do
material trazido à luz pelo paciente de acordo com duas possibilidades. Se a
resistência for leve, ele será capaz, pelas alusões do paciente, de inferir o
próprio material inconsciente; se a resistência for mais forte, ele será capaz
de reconhecer seu caráter a partir das associações, quando parecerem tornar-se
mais remotas do tópico em mão, e o explicará ao paciente.
A descoberta da resistência,
contudo, constitui o primeiro passo no sentido de superá-la.
A associação livre oferece várias
vantagens:
-
expõe o paciente a menos dose possível de compulsão, jamais permitindo que se perca
contato com a situação real;
-
garante em grande medida que nenhum fator da estrutura da neurose seja
desprezado e que nada seja introduzido nela pelas expectativas do analista.
Em completo contraste com o
hipnotismo e com o método da incitação, o material inter-relacionado aparece em
tempos e pontos diferentes no tratamento, e teoricamente, sempre ser possível
ter uma associação, contanto que não se estabeleçam quaisquer condições quanto
ao seu caráter.
Com a ajuda da livre associação e da
arte correlata de interpretação, tornou-se possível provar que os sonhos tem um
significado, q que é possível descobri-lo. Os sonhos podem ser vistos como algo
absurdo e confuso, porém é um principio psíquico válido, e o sonho não passa de
uma tradução distorcida, abreviada, mal compreendida e na sua maior parte uma
tradução de imagens.
“A associação livre é uma maneira
de fazer surgir o desejo nas representações. Essa operação é uma tarefa do
analisante. A associação livre foi o dispositivo descoberto por Freud que
consiste no desenrolar das cadeias significantes do sujeito, sustentado pelo
amor de saber dirigido ao analista: a transferência. Desenrolar este que
permite desatar os nós do recalque do sintoma, cabendo, por sua vez, ao
analista a direção da análise apontada para a construção da fantasia fundamental
no intuito de fazer o sujeito atravessá-la, ou seja, ir para além desta. Se a
fantasia é uma resposta do sujeito ao enigma do sexo que representa o desejo do
Outro, atravessá-la é experimentar o estado de desolação absoluta ou de
desamparo - Hilflosigkeit, ou seja, a mais completa solidão e a inexistência do
Outro – S(A).” (Jorge A. Pimenta Filho Carta Acf)
A associação livre como regra
fundamental da psicanálise, constitui um convite a que o sujeito da experiência
tome distância da coerência, como condição de poder bem dizer da verdade do
sintoma que o invade. Assim a psicanálise valoriza mais o incoerente que o
coerente do sintoma e o consultório do analista é o lugar de se desfazer desses
laços da coerência do sintoma para na linha de um novo laço – transferencial, o
sujeito, enlaçado não ao analista, mas a esse lugar do desenlaçamento, buscar
dar conta de seu sintoma e elabora-lo. (Jorge A. Pimenta Filho Carta Acf)
3 – O Analista
O
analista deve apenas escutar e interferir apenas para quebrar as resistências
do paciente de acordo com suas possibilidades, é o paciente que determina o
curso da análise e o analista interferi apenas para ajudar o paciente
atravessar qualquer tipo de restrição.
Na analise, espera-se
que o sujeito conheça os significados primordiais que o determinaram em sua
historia e em sua vida a partir do decifrar do inconsciente, para que deles se
desalienar escapando de seu poder de comando (QUINET, 2008).
O analista faz com que, através da associação
livre, o inconsciente se presentifique e possa ser decifrado pelo próprio
sujeito. Quem faz a interpretação dos seus próprios sonhos é o sonhador, quem
interpreta é, portanto, o próprio sujeito, ao deixar-se vagar por suas
associações (QUINET,
2008).
O papel
do analista diante do paciente não é um papel neutro, de um ouvinte passivo. O
analista é um ponto de convergência do inconsciente, ou melhor, é uma porta
aberta para o inconsciente paciente passar. O analista faz com que o
inconsciente se presentifique e possa ser decifrado pelo próprio paciente. (QUINET, 2008) salienta que um paciente em análise lhe dizia:
Eu sei
que você não tem aí nenhuma função, a única coisa que você faz é me fazer
falar; aí eu pensei cá comigo, que podia continuar sozinho. Até que entendi que
a sua função é essencial, pois é nos momentos em que estou em casa pensando na
análise, ou vindo para cá, ou aqui na análise, que começo a pensar as minhas
coisas (QUINET, 2008)
Não
apenas o analista, mas o próprio consultório é um campo que faz o inconsciente
existir, ou seja, se aparecer naquele momento com grande intensidade. (QUINET, 2008) diz também, que o inconsciente se
presentifica na poltrona do analista, o inconsciente vai se situar nesse lugar.
CONCLUSÃO - Entendi que todos temos
mecanismos de defesa que inconscientemente usamos para nos proteger daquilo que
fere ou traumatiza. Estes identificados pelo analista, através da livre
associação, onde o paciente expõe suas ideias sem pressão ou incitação, podem
ser tratadas para que o conflito do paciente venha á tona e seja tratado.
BIBLIOGRAFIA
- Freud,
Sigmund – Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas – Volume
III - As Neuropsicoses de defesa, 1984 - Rio de Janeiro: Imago.
- Freud,
Sigmund – Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas – Volume XX
– Um Estudo Autobiográfico, Inibições, Sintomas, Ansiedade, Análies Leiga e
Outros trabalhos – 1925/1926 - Rio de Janeiro: Imago.
- QUINET, Antônio - A descoberta do
inconsciente - Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
Espero que abençoe a sua vida......
Bjksss............... Graça e Paz!!!