Deixo aqui um artigo que fiz para o Curso de Pos em Psicanálise pela IBRAPCHS.
Quem organiza por cor pra depois comer? |
RESUMO - Este artigo tem
como tema central o TOC, “Transtorno Obsessivo-Compulsivo”, um transtorno comum
na sociedade, onde as obsessões persistem até o exercício da compulsão que
alivia momentaneamente a ansiedade com rituais repetitivos e inúteis, que
atinge milhões de pessoa pelo mundo. O objetivo é esclarecer o TOC, seus
sintomas, suas possíveis causas e tratamentos.
Palavras-chave: TOC;
transtorno; psicanálise; obsessão; compulsão
ABSTRACT - This article has as its central theme OCD,
"Obsessive-Compulsive Disorder," a common disorder in society, where
obsessions persist until the exercise of compulsion that momentarily relieves
anxiety with repetitive and useless rituals, which affects millions of people
around the world. The goal is to clarify OCD, its symptoms, its possible causes
and treatments.
Keywords: OCD;
disorder; psychoanalysis; obsession; compulsion
1
- Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
O TOC é um transtorno
de ansiedade (a ansiedade é o sintoma
primário ou a causa primaria de outros transtornos), são perturbações nos
padrões de pensamento que resulta em emoções negativas e afeta a capacidade da
pessoa em se comportar normalmente, é descrito no “Manual de Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais - DSM.V” 300.3 (PÁG. 305) da Associação de
Psiquiatria Americana.
DSM.V (PÁG. 327)
- No transtorno obsessivo-compulsivo, existem pensamentos intrusivos
recorrentes, porém estes atendem à definição de uma obsessão. Além disso, os
pensamentos intrusivos não estão relacionados a um evento traumático
vivenciado; compulsões em geral estão presentes; e outros sintomas de
transtorno de estresse agudo estão comumente ausentes.
O TOC é
caracterizado pela presença de crises recorrentes de obsessões e compulsões que
geram:
·
Pensamentos,
crenças e ideias intrusivas e incontroláveis.
·
Emoções
negativas como culpa e ansiedade
·
Comportamentos
ou ações repetitivas e ritualísticas
Pois bem, a
chave para entender a pessoa com TOC é saber que seu circuito detector de erros
funciona muito mais do que é necessário, ou seja, ele funciona de maneira
excessiva e tem a tendência de não cessar sua atividade quando o erro é
detectado ou corrigido, deixando a pessoa com a constante sensação de que algo
está errado. Dessa maneira, esse individuo se sente compelido a corrigir
incessantemente seus erros reais ou imaginários. (SILVA, Ana Beatriz Barbosa - Mentes
e manias, pág. 19).
O cérebro é como
um supercomputador, ele recebe constantemente dados novos sobre experiências, ajuda
a compreender e armazena, porém, às vezes o sistema de comunicação entre as
diferentes partes do cérebro se degenera. Quando isso acontece, a informação
não é processada corretamente e o cérebro começa a cometer erros quando tenta
classificar dados novos ou dizer ao corpo como responder. O TOC está
relacionado a problemas de comunicação entre as partes do cérebro que traduzem
informações em pensamentos e ações, incluindo o córtex orbitofrontal, núcleo
caudado, giro cingulado e os gânglios basais. Quando essas partes do cérebro
funcionam mal, informação inadequada é passada pelo sistema sobrecarregando a
pessoa com pensamentos e ações. Quanto mais o comportamento se realiza, mais a
pessoa será forçada a repeti-lo.
Podemos dividir
o TOC em dois grupos:
a) Transtorno
obsessivo-compulsivo subclínico – as obsessões e rituais se repetem com
frequência, mas não atrapalham a vida da pessoa.
b) Transtorno
obsessivo-compulsivo propriamente dito: as obsessões persistem até o exercício
da compulsão que alivia a ansiedade, este estudo se concentrará neste.
O Manual
Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais – DSM – IV tem como critérios
para o diagnóstico do TOC, a presença de pelo menos quatro desses sete sintomas:
1. Preocupação excessiva com detalhes, regras,
listas, cores, ordem, organização, horários, que ás vezes, o ponto principal da
atividade é perdido, por causa da preocupação com o perfeccionismo, que acaba interferindo
na conclusão da tarefa ou fazendo com que a mesma demore muito mais a ser
concluída.
2. Preocupação excessiva com o trabalho e
a produtividade, com isso, negligencia atividades sociais.
3. Meticuloso em excesso, escrupuloso e inflexível
em determinados assuntos de ética, moral ou valores.
4. Incapaz de se desfazer de objetos
usados ou inúteis, mesmo que estes não tenham valor sentimental ou alto custo.
5. Resistência em delegar ou dividir
tarefas ou trabalho em grupo, a menos que, o grupo, se submeta ao modo escolhido
pela pessoa em fazer as coisas.
6. Adoção de um estilo miserável de gastos
pessoais e/ou com outras pessoas, por acreditar que este precisa ser guardado
para problemas futuros.
7. Rigidez e teimosia. (TASMAN, Kay;
Psiquiatria – Ciência Comportamental e Fundamentos Clínicos – Pág. 432)
2
- Sintomas
Pessoas
diagnosticadas com TOC experimentam dois sintomas principais: obsessões e
compulsões.
2.1 - Obsessões - são pensamentos, ideias,
imagens mentais e crenças invasivas e recorrentes que geralmente são
perturbadoras e desagradáveis, causam disfunção ou sofrimento emocional, causam
ansiedade e consomem uma parcela de tempo significativa das pessoas que sofrem
com esse transtorno. Quando a pessoa tenta trabalhar ou estudar, muitas vezes, seus
pensamentos obsessivos afloram e interferem na capacidade de concentração. A
maioria de nós consegue se livrar de um pensamento ou crença perturbadora que
nos incomoda, mas uma pessoa com TOC é incapaz de controlar suas obsessões.
Algumas obsessões comuns incluem:
·
Obsessão
de contaminação = medo de contaminação por germes ou sujeira,
·
Obsessão
em duvidas = medo de esquecer algo, como de desligar o fogão, não confiar em si
mesmo e por isso certifica-se varias vezes que trancou a porta.
·
Obsessão
de agressão = medo de ferir as pessoas ou a si
·
Obsessão
de conteúdo Sexual = pensamentos indesejados sobre comportamento agressivo ou
sexual
·
Obsessão
de simetria = ideias constantes sobre a importância da perfeição, alinhamento
de objetos ou simetria.
·
Obsessão
somática = preocupação excessiva com doenças, medo de adoecer, de achar que uma
dor abdominal por ter comido algo é uma doença grave.
·
Obsessão
de caráter religioso = pensamentos constantes sobre moralidade ou religião,
sobre o certo ou errado, blasfêmia, pecado e etc...
·
Obsessão
de armazenamento e poupança = coleciona ou acumula vários objetos, não
conseguindo se desfazer de nada com o pensamento de que um dia pode precisar ou
pode acontecer algo ruim caso se desfaça do item.
·
Obsessão
em superstição = como a crença de que pisar numa fenda da calçada pode prejudicar
alguém ou a própria pessoa, passar debaixo de escadas e etc.
2.2 - Compulsões - são comportamentos,
popularmente chamados de manias, ou rituais que uma pessoa é levada a fazer, repetidamente
e sempre do mesmo jeito. Geralmente as compulsões são realizadas como uma
tentativa para reduzir a ansiedade e angústia causadas pelas obsessões, pois
oferecem alivio momentâneo, porém aprisiona a pessoa num circulo vicioso. Por
exemplo, o medo obsessivo de germes ou de não estar limpo o suficiente,
geralmente, resulta em lavar as mãos compulsivamente.
Compulsões podem envolver comportamentos
mentais como repetir mentalmente uma palavra diversas vezes ou comportamentos
físicos como bater na madeira varias vezes ou trancar e destrancar algo
repetidas vezes. Geralmente eles são irracionais e não têm conexão ou efeito nos
problemas ou medos da pessoa. Algumas compulsões comuns incluem:
·
Compulsão
ou mania por contar = contar ou bater a mão até um determinado numero, ou
contar em ordem crescente ou decrescente objetos ou carros.
·
Compulsão
ou mania de repetição = repetir ações por varias vezes como ligar/desligar
interruptor, trancar/destrancar portas.
·
Compulsão
ou mania de verificação = verificar várias vezes as coisas como os botões do
fogão, fechaduras e interruptores de luz. Mesmo já tendo feito, volta a fazer,
pois não consegue controlar a ansiedade e repete o mesmo ritual de checagem.
·
Compulsão
ou mania de limpeza ou desinfecção = rituais de limpeza ou lavagem, uso
excessivo de produtos como: álcool, desinfetante entre outros,
·
Compulsão
ou mania mental = são atos mentais voluntários para tentar neutralizar os
pensamentos que geram ansiedade, podem ser estórias criadas pela própria pessoa
como um filme, frases e etc... Entrar em contato com família e amigos
repetidamente para confirmar a sua saúde e segurança
·
Compulsão
ou mania de organização = organizar itens de uma maneira específica ou colocar
as coisas em certa ordem experimenta incomodo ou sofrimento com algo guardado
fora da “ordem”.
·
Compulsão
ou mania de armazenamento = guardar itens que devem ser dispensados, como jornais
velhos ou embalagens vazias. Por sinal, um ritual visto com muita frequência,
são pessoas que chamamos de “acumuladoras” que não conseguem se desfazer de
objeto nenhum, nem embalagens vazias, podendo até chegar ao extremo de não se
desfazer nem de lixo.
·
Compulsão
ou manias de superstição = não vestir determinada cor de roupa, usar mesma
roupa em provas e etc...
Muitas pessoas
com TOC têm uma boa percepção, elas reconhecem que suas obsessões e compulsões
são irracionais ou inúteis, mesmo assim não são capazes de controlar seus
pensamentos desagradáveis e seus rituais.
Precisamos
salientar que as obsessões e/ou Compulsões são comuns em vários transtornos
psiquiátricos além do TOC, também estão presentes, na hipocondria (medo excessivo e não realista de doenças
que podem levar a morte e ainda não foi diagnosticado), no transtorno dismórfico
corporal (dismorfofobia - Doença mental
que envolve um foco obsessivo em um defeito que a pessoa considera ter na
própria aparência), na tricotilomania (distúrbio
que envolve impulsos recorrentes e irresistíveis de retirar pelos do corpo),
nos transtornos alimentares especialmente a bulimia (transtorno alimentar grave marcado por compulsão, seguido de métodos
para evitar o ganho de peso) e na compulsão alimentar periódica (atitude alimentar caracterizada por
episódios de comer grandes quantidades de comida em intervalos curtos de tempo,
com sensação de perda de controle sobre o ato de comer e, em seguida,
arrependimento de ter comido tudo o que comeu sem necessidade).
As obsessões e
compulsões são especialmente angustiantes conforme se tornam mais complexas, algumas
pessoas seguem rituais que ocupam horas do seu dia, todos os dias. Quando isso
acontece, os sintomas são considerados graves porque têm o poder de afetar a
maioria dos aspectos da vida da pessoa e muitas vezes interferem nos
relacionamentos, trabalho, saúde e estudos, quando percebidos por família e amigos
geram criticas ou zombaria, o que agrava e acentua mais o problema.
Muitas vezes, as
pessoas que sofrem de TOC se sentem tolas por fazer a mesma coisa repetidas
vezes, porém, mesmo com esse entendimento, acabam fazendo do mesmo jeito,
repetindo e repetindo, por não suportarem a ansiedade de não cumprir tais
comportamentos, pois à medida que pensam e não fazem, o assunto às perturbam
mais, e elas acabam cedendo, a emoção ganha da razão.
Na maioria dos
casos de TOC constatamos obsessões associadas a compulsões. No entanto, podemos
encontrar ainda apenas ideias, imagens e impulsos obsessivos sem nenhuma
associação com compulsões. O mais raro de ocorrer é que a pessoa com TOC
apresente só compulsões, sem nenhum tipo de pensamento obsessivo elaborado.
Nesses casos, as manias são desencadeadas por intensa e incontrolável sensação
de imperfeição, desconforto e falta de se sentir completo. Por esses motivos,
as ações são repetidas ate que a pessoa experimente a sensação de que aquilo que
ela esta fazendo esta correta, perfeita e completa. É importante destacar que,
na evolução do TOC, habitualmente ocorrem mudanças dos tipos de sintomas, ou
seja, um individuo pode apresentar ideias fixas de contaminação (aids, germes, bactérias, por exemplo),
com manias de assepsia e desinfecção (higienizar
as mãos constantemente, por exemplo), e passa a apresentar manias de
colecionamento (embalagens, bulas, lixo,
por exemplo) ou de verificação (portas,
janelas, fogão, por exemplo). Nesses casos os primeiros rituais podem
desaparecer em definitivo ou apenas temporariamente. (SILVA, Ana Beatriz
Barbosa - Mentes e manias, pág. 65 e 66).
3
- Fatores de risco e causas
O TOC é um
transtorno em que a emoção ganha da razão, e esta emoção, domina os pensamentos
e as atitudes da pessoa que faz o que não gostaria de fazer, por que, muitas
vezes, sabe que é inútil ou uma bobagem, mas precisa fazer pra diminuir a
ansiedade e afastar os pensamentos desagradáveis, e caso a pessoa não queira
encarar que realmente existe um problema, mais ansioso ele fica, tornando os
rituais cada vez mais frequentes, um ciclo vicioso onde fica cada vez mais difícil
sair.
A)
-
Genético: a pessoa que tem um membro próximo da família com TOC possui mais
chances de também desenvolver a doença. Entre familiares de primeiro grau,
4,96% a 35% apresentam sintomas que os enquadram em algum transtorno do TOC.
B)
- Fatores psicológicos: a pessoa que tem
sintomas de outro transtorno mental tem maiores chances de ter TOC, quem já foi
diagnosticado com transtorno de ansiedade ou transtorno de humor (depressão). Algumas características de
personalidade, como o perfeccionismo, alto senso de moralidade e/ou
responsabilidade são também associados com o TOC. A personalidade de uma pessoa
reúne o que se herda dos pais, as experiências adquiridas ao longo da vida e seu
modo de reagir e interagir com o mundo, por isso, a herança genética é de
extrema importância pra construção da uma personalidade. O ambiente familiar na
infância é o um meio de aprendizagem e pais com comportamentos baseado na
ansiedade ou estresse tem grande possibilidade de passar aos filhos esse comportamento
como padrão em função da exposição constante, pois as pessoas acabam adquirindo
os hábitos das pessoas com quem convivem, e isso acontece, no decorrer de toda
a vida.
C)
- Doenças durante a infância: nas crianças, a
reação do organismo a uma infecção por estreptococos beta-hemolíticos do grupo
A (SBHGA - bactéria que causa as formas
mais comuns e leves da infecção causada por GAS incluem faringite
estreptocócica que dá dor de garganta, geralmente acompanhada de febre, com uma
substância branca cobrindo a garganta e as amígdalas, e glândulas inchadas no
pescoço) e infecções da pele.
Em alguns casos,
a infecção causada por estreptococos do grupo A pode agravar-se, podendo
ocorrer escarlatina, infecções do ouvido médio (otite média), problemas renais e febre reumática. Quando os
estreptococos do grupo A penetram partes do corpo onde estas bactérias não
costumam estar presentes (por exemplo,
sob a pele, na medula espinhal, no sangue, nas articulações ou nos pulmões)
pode haver desenvolvimento de doença séria, segundo o Massachusetts Department
of Public Health pode causar desenvolvimento repentino de TOC.
D)
-
Alterações hormonais na evolução da gravidez e pós-parto = estudos correlacionam TOC e oxitocina (hormônio segregado pela hipófise, que induz
as contrações do músculo uterino durante o parto e estimula a secreção de leite)
e apontam para um subgrupo de mães que apresentam sintomas de pensamentos
obsessivos ritualísticos (checagens
repetidas ao berço, limpeza e desinfecção da casa e objetos do bebe, regras
para visitas e etc.), que geram desconforto e sofrimento iniciados durante
ou logo após o parto.
E)
-
Situações de estresse: podem ocorrer no curso de inúmeras condições médicas, principalmente
as neurológicas, como por exemplo, após acidentes de carro ou acidentes vasculares
cerebrais isquêmicos ou hemorrágicos, no decorrer de esclerose múltipla,
tumores cerebrais e etc...
TOC é um dos
transtornos mentais mais comuns e aproximadamente 2% dos adultos nos Estados
Unidos sofrem com o TOC alguma vez durante a sua vida. Destes, mais da metade
tem sintomas severos que causam problemas significativos nos relacionamentos
sociais: trabalho, relacionamento, saúde e etc.
Homens e
mulheres são diagnosticados com TOC em igual proporção, mas os homens são mais
suscetíveis a ter sintomas durante a infância. Aproximadamente 25% de todos os
casos de TOC são de crianças menores de 18 anos e 1/3 dos adultos com TOC
desenvolveram a doença quando jovem.
A metade ou mais
dos pacientes com TOC apresentam comorbidades (correlação, coexistência de transtornos e doenças) que podem interferir
no tratamento. As comorbidades mais comuns do TOC são a depressão, os transtornos
de ansiedade, especialmente as fobias específicas e o TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), o TPOC (transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva), as grooming
disorders (tricotilomania, skin picking e automutilações), tiques (Tiques são movimentos motores ou
vocalizações, súbitos, rápidos, recorrentes, estereotipados e não rítmicos,
conforme DSM IV) e S. de Tourette (além
de tiques motores estão presentes vocalizações ou os chamados tiques vocais)
e os transtornos alimentares (bulimia e
anorexia). Menos comuns são o TDAH (Transtorno
de déficit de atenção com hiperatividade), THB (transtorno de humor bipolar) e a esquizofrenia. Todas tem
implicações importantes tanto para o tratamento farmacológico como para a TCC (terapia cognitiva comportamental) do
TOC. (http://www.ufrgs.br/toc/images/profissional/material_didatico/diagnostico_clinico_diagnostico_diferencial_e_comorbidades_no_TOC.pdf - capturado em
19 de março de 2018)
Profissionais de
saúde mental e cientistas, entram em comum acordo, de que o surgimento inicial
do TOC não é algo que possa ser prevenido, mas que os pacientes podem ser
capazes de controlar seus sintomas e rituais uma vez que eles tenham sido
diagnosticados.
Para isso, as
pessoas com TOC precisam identificar qualquer situação ou evento que possam ter
sido o gatilho inicial para suas atitudes e rituais repetitivos e manter anotações
dessas atitudes para que possam procurar tratamento imediatamente caso haja
piora. Precisam anotar também o que desencadeia hoje os rituais e por quantas
vezes são repetidos.
Pessoas
diagnosticadas com TOC precisam continuar tomando seus medicamentos conforme
receitado pelo psiquiatra. Algumas vezes, alguns pacientes param de tomar seus
medicamentos quando se sentem melhor ou percebem que seus rituais começam a desaparecer,
mas isso é extremamente perigoso, 20% dos pacientes param de responder aos
medicamentos que uma vez funcionaram porque eles simplesmente pararam de
tomá-los conforme prescrito, quando voltam a tomar já existe uma resistência do
organismo.
6
- Tratamentos
Esconder os
sintomas por vergonha, insegurança ou orgulho é um péssimo caminho, quanto mais
se adia ou se cria resistência ao tratamento, mais grave fica a doença, e mais
obsessões e compulsões podem surgir, por outro lado, quanto mais cedo se
começar o tratamento, mais chances a pessoa tem de controlar os rituais, as
atitudes, os pensamentos impostos e
desagradáveis, bem como os rituais gerados pela doença e o desconforto em se
fazer algo que, muitas vezes, para o próprio paciente, não faz sentido mas é
inevitável.
O tratamento
para o TOC pode ser medicamentoso ou não e combinado de psicoterapia com base nas necessidades e
sintomas do paciente. Estes tratamentos (medicamentoso
ou terapia) trabalham em conjunto para melhorar o funcionamento e reduzir a
severidade dos sintomas ao longo do tempo e mais que isso, descobrir qual o
trauma ou qual foi o gatilho que desencadeou tal transtorno, em geral, demora
um tempo, depois de ter manifestado os primeiros sintomas, para o portador de o
distúrbio receber o diagnóstico de certeza e iniciar o tratamento, por isso, na
maioria dos casos, o TOC é diagnosticado em adultos, embora possa ter tido seus
primeiros sintomas quando ainda era criança, por volta dos 3 ou 4 anos de
idade. Na infância, o distúrbio é mais frequente nos meninos, porém no final da
adolescência, pode-se dizer que o número de casos é igual nos dois sexos,
também vale salientar que, é muito raro diagnósticos de TOC, em desenvolvimento
em pessoas com mais de 40 anos.
Para os
familiares é uma situação difícil, pois muitas vezes percebem rituais e
repetições, acabam criticando a atitude, um dia cede e não critica, no outro,
já movidos por estresses diversos, não cedem e criticam, o que torna a pessoa
mais ansiosa, acontece também, em alguns casos, dos próprios familiares
perceberem que quando a pessoa é exposta a determinada situação (discussão, provas, reuniões e etc.) os
sintomas aumentam relativamente.
Os membros da
família, em alguns casos, chegam aos limites do desespero por causa do
comportamento do paciente. Qualquer processo psicoterapêutico deve incluir
atenção aos membros da família para a provisão de apoio emocional, explicações
e conselhos de como manejar e responder ao paciente (SADOCK, 2007).
É importante também
que as pessoas que sofrem de TOC e seus familiares reconheçam que apenas a
medicação raramente é eficaz em afastar os sintomas totalmente. Adicionar
outras modalidades de tratamento ajuda a pessoa a controlar suas obsessões e
compulsões melhor. Até o momento, parece que a medicação apenas atua no
controle e não na cura dos sintomas. Quando as medicações são efetivas, a
maioria dos portadores diz que estas ajudam a rejeitar as preocupações e a
resistir às compulsões mais facilmente. Assim, algum esforço por parte do
portador é necessário para diminuir os sintomas e a medicação ajuda nesse
processo. Quando a medicação é interrompida, os sintomas tendem a retornar
dentro de alguns dias, semanas ou meses e novamente torna-se mais difícil
resistir à necessidade de realizar as compulsões. Adicionando outras técnicas
terapêuticas particularmente a terapia comportamental, esses portadores terão
maiores chances de conseguir tratar os sintomas com menos medicação ou até sem
medicação em longo prazo (VAN NOPPEN, PATO e RAMUSSEN, 2000).
Embora poucas
comparações tenham sido realizadas, a terapia comportamental é tão eficaz
quanto à farmacologia no TOC, e alguns dados indicam que os efeitos benéficos
são mais duradouros com a primeira. Por isso vários clínicos consideram a
terapia comportamental o tratamento de escolha para o transtorno. A abordagem
comportamental pode ser conduzida em situações tanto de ambulatório quanto de
internação hospitalar. As principais abordagens comportamentais são a exposição
e a prevenção de resposta. A dessensibilização sistemática, a parada de
pensamento, a inundação, a terapia por implosão e o condicionamento aversivo
tem sido utilizados em pacientes com TOC. Na terapia comportamental os
pacientes precisam estar de fato comprometidos com a melhora (SADOCK, 2007).
Além
da exposição e da prevenção da resposta, a TCC (criada pelo psiquiatra americano Aaron Beck) utiliza técnicas para,
correção das crenças e pensamentos distorcidos existentes no TOC, com o
objetivo de realizar a chamada “reestruturação cognitiva”, que é o treino dos
pacientes na identificação de pensamentos e crenças distorcidas e
disfuncionais; questionamento de tais crenças, discussão de evidências, testes
quanto á sua veracidade, exposição aos pensamentos, escrevendo, etc. A terapia
pode ser individual e, mais recentemente, vem sendo desenvolvida uma forma de
tratamento em grupo. Além de comparecer às sessões nas quais recebe uma série
de informações e realizam exercícios, o paciente realiza também exercícios no
seu próprio domicílio ou local de trabalho. A maioria dos pacientes que faz os
exercícios e completa o tratamento apresenta melhoras substanciais podendo
inclusive eliminar por completo os sintomas (CORDIOLI, 2004).
Qualquer antidepressivo,
que oferecerá alivio por controlar a ansiedade, não deve ser retirado do
paciente de uma única vez, essa retirada deve ser gradual, para que o organismo
vá se acostumando com a diminuição do medicamento, sem maiores prejuízos ou o
retorno ao transtorno, apenas o médico psiquiatra está apto a fazer o desmame
da medicação. A medicação jamais deve ser interrompida pelo próprio paciente.
A
terapia também é de grande importância, pois auxiliará o paciente a lidar e
entender melhor as situações de estresse que tendem a disparar o ciclo vicioso
dos pensamentos e rituais, esta também, não deverá ser interrompida, pois em
terapia o paciente tem a possibilidade de liberar o estresse sem danos, isto é,
talvez o gatilho do TOC possa ser problemas familiares que não podem ser
mudados (doença).
CONCLUSÃO - O TOC é um transtorno
presente na sociedade, “Este transtorno
afeta cerca de 2,5% da população geral, o que significa que o TOC é mais comum
do que a Esquizofrenia e outras doenças mentais graves. No entanto, acredita-se
que este percentual seja maior, pois muitos portadores de TOC, por vergonha e
na tentativa de esconder seus pensamentos e comportamentos repetitivos, não
procuram ajuda médica. Este fato leva os médicos a subestimarem o número de
pessoas com esta doença.” (SILVA, Ana Beatriz Barbosa - Mentes e Manias) porém,
pouco conhecido, pois ele é facilmente confundido com manias, e causa prejuízos
na vida da pessoa quando o caso já está avançado, mesmo porque, muitos só
percebem o problema quando passam a ter a vida social, relacionamentos e
produtividade no trabalho, alterados.
Quando a pessoa
reconhece o problema, e normalmente o reconhece (escrevo com causa própria, pois eu sabia que havia algo errado e mesmo
entendendo que eu tinha o TOC, não conseguia me curar, me libertar, me
controlar, sem ajuda, sem a análise para a descoberta do ponto inicial), dando
ouvidos a terceiros ou mesmo se percebendo e procura ajuda, o profissional se
aprofundará na vida da pessoa para analisar, investigar e identificar suas
características e possíveis causas, e, só assim, encontrar o melhor caminho
para se tratar esse transtorno, com o diagnóstico logo no inicio fica mais
fácil, quanto mais demorar o diagnóstico mais intenso pode ficar o transtorno pois
mais ansiedade será causada, trazendo mais prejuízos na vida da pessoa.
Também existem
aqueles que não admitem de maneira alguma o problema e tentam esconder até de
familiares ou amigo próximo, porém a consequência disso é que eles demoram a
procurar ajuda, as vezes levam anos para procurar, o que faz com que os hábitos
se tornem mais arraigados a pessoa, dificultando inclusive o tratamento, pois a
mudança é mais difícil e muito mais lenta.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
SILVA, Ana Beatriz
Barbosa – Mentes e Manias – TOC: Transtorno Obsessivo Compulsivo – São Paulo,
Principium, 2017. (2ª Edição)
SADOCK, B.J., Sadock,
V.A., & Ruiz, P. (2015). Kaplan
& Sadock's synopsis of psychiatry: Behavioral sciences/clinical psychiatry.
Philadelphia, PA: Wolters Kluwer.
VAN NOPPEN, Barbara L. M.S.W. PATO, Michele T. M.D.,
RASMUSSEN, Steven. M.D. Aprendendo a viver com o TOC.
Departamento de Psiquiatria da FMUSP. São Paulo – SP, 1ª Ed. 2000.
SADOCK, Benjamin James:
Compendio de Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica/
Benjamin James Sadock, Virginia Alcott Sadock: tradução Claudia Dornelles... [ET
AL]. – 9. Ed. – Porto Alegre: Artmed, 2007.
TASMAN, Kay;
Psiquiatria – Ciência Comportamental e Fundamentos Clínicos. Editora Manole –
1ª Edição de 2002
CORDIOLI, Aristides V.; HELDT, Elizeth. Psiquiatria e Psicologia: Transtornos
Obsessivos e Compulsivos – TOC – capturado em 14/03/2018.
http//WWW.drshirleydecampos.com.br/noticias/1826.
Manual de Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais - DSM.V” (PÁG. 305 e 327) – capturado em 13/03/18 da
página:
https://creativecommons.org/licenses/by-NC-SA/4.0/ - Licenciamento - Este artigo está autorizado sob a licença CC-BY-NC-SA
4.0. (Os licenciados podem copiar, distribuir, exibir e executar a obra e fazer
trabalhos derivados dela, desde que sejam para fins não-comerciais)
https://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/toc-transtorno-obsessivo-compulsivo/ - Acesso em 17 de Março de 2018. Np.
http://draanabeatriz.com.br/portfolio/transtorno-obsessivo-compulsivo-toc/
- Acesso em 17 de Março de 2018. Np.
http://www.ufrgs.br/toc/images/profissional/material_didatico/diagnostico_clinico_diagnostico_diferencial_e_comorbidades_no_TOC.pdf
- capturado em 19 de março de 2018
Psicanalista Clínica Mariza Pizzi - CRPC/RJ 396/2018