Oláaaaa passei dias sem postar pois estava enroladíssima, admito que é má administração do meu tempo...mas tomando as rédeas novamente, eis-me aqui!!!
Postando hoje um trabalho curto sobre a "Teoria da Pulsão e Libido", autorizo copias ou referencias ao mesmo...as imagens peguei na WEB e só postei para não ficar só a escrita, porém não as utilizei na entrega do trabalho.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho
tem por objetivo comunicar algumas considerações sobre Teoria da Pulsão e
Libido. Rastrear,
na obra freudiana, o conceito de "Trieb" que é geralmente traduzido
como "pulsão" ou "instinto", desfazendo alguns equívocos frequentes
e explorando suas articulações teóricas e também o conceito de Libido em Freud, propondo uma
descontinuidade com o conceito de libido apresentado por Lacan.
Em 1905, na primeira edição dos Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, que encontramos pela
primeira vez a palavra “Pulsão” na obra de Sigmund Freud, a respeito de uma
teoria sobre a sexualidade humana, no caso, a Pulsão Sexual.
A Pulsão é definida como representante psíquico de
estimulações constantes de fonte endógena, se tratando, portanto, de um
conceito limítrofe entre o psíquico e o somático.
Neste texto, Freud introduz a noção de pulsões parciais
ligadas a zonas erógenas determinadas, cuja soma constitui a base da
sexualidade infantil e quando chegar a puberdade não significará o abandono das
mesmas. Essas pulsões parciais funcionam na infância através de atividades
parcelares e no adulto através dos prazeres preliminares e perversões. Na
puberdade, a sexualidade encontra certa organização, as pulsões parciais ainda
se encontram ativas, mesmo que sob a primazia dos genitais ou sob o destino do
recalque. Neste mesmo texto, outro ponto
importante foi a plasticidade conferida à pulsão, de forma que seu objetivo e
finalidade são o que ela tem de mais variável, apesar de não poder dispensar
eles.
Em 1910, no texto A Concepção Psicanalítica da Perturbação Psicogênica da Visão, Freud
expõe seu primeiro dualismo funcional, com a introdução do conceito de Pulsão
do Eu. O conflito psíquico se faria entra a Pulsão Sexual, a serviço da
sexualidade e a Pulsão do Eu, a serviço da conservação do individuo. A Pulsão
do Eu participaria da defesa contra a invasão do Eu pela Pulsão Sexual.
Em 1911, no texto de Formulações sobre os dois princípios do Funcionamento
Psíquico, Freud detalha mais o conflito psíquico, submetendo a pulsão
sexual ao domínio do principio do prazer e a pulsão do eu ao domínio do
principio da realidade.
Em 1914, no texto de Sobre o Narcisismo, uma introdução veio
subverter o primeiro dualismo pulsional, sem apresentar um segundo, com a ideia
de que o eu é um objeto a ser investido pela pulsão sexual. Em uma nova
redistribuição da pulsão sexual encontramos a libido do eu, que é a pulsão
sexual investida no eu, e a libido objetal, que é a pulsão sexual investida em
objetos externos, muito embora a pulsão do eu não tenha sido descartada da
teoria freudiana e ainda pudesse se opor a pulsão sexual, mas tarde, em 1923,
depois do estabelecimento do novo dualismo pulsional.
Em 1915, em Pulsões e suas Vicissitudes, Freud resgata o conceito de pulsão
relacionado a diferenciação entre estímulos externos e estímulos internos,
presentes no Projeto para uma Psicologia
Cientifica de 1895, quando estímulos externos se apresentam ao aparelho
neuronal, este utiliza mecanismos de fuga no sentido de livrar da estimulação.
No caso dos estímulos internos, a fuga não é possível, o cessar de sua estimulação
só pode ser obtido de outra forma, para isso, é necessária uma ação especifica
que promova uma alteração da fonte interna da estimulação. Os estímulos
internos exigem do sistema nervoso muito mais do que os estímulos externos, é
só tem sua fonte interna de estimulação satisfeita através de atividades
complexas e interligadas, através das quais o mundo externo é modificado para
promover a satisfação. Neste mesmo texto, Freud reintroduz os elementos acerca
do funcionamento da pulsão que haviam sido indicados nos três ensaios:
· Fonte (Quelle) – processo somático que
ocorre em um órgão ou parte do corpo, mas só chegamos a conhecê-lo através das
funcionalidades pulsionais. Uma pulsão não pode ser
destruída nem inibida, uma vez tendo surgido, ela tende de forma coerciva para a satisfação.
Aquilo sobre o qual vai incidir a defesa é sobre os representantes psíquicos da
pulsão;
·
Finalidade (Ziel) – a finalidade da pulsão é sempre a
satisfação, e só pode ser alcançada através da eliminação do estado de
estimulação, conseguida por um caminho direto ou através de varias finalidades
mais próximas ou intermediarias que se combinam e se intercambiam umas as
outras, no sentido de chegar a finalidade última. A satisfação é definida como a
redução da tensão provocada pela pressão, as pulsões podem ser inibidas em sua
finalidade, mas mesmo nesses mecanismos há uma satisfação substitutiva,
parcial;
·
Objeto (Objekt) – é através de um objeto que a pulsão
consegue alcançar sua finalidade. É o que existe de mais variável em uma
pulsão.
Ele acrescenta
mais um elemento:
·
Pressão (Drang) – é uma pressão constante e é a própria
essência da pulsão. Ela é seu fator motor, sua quantidade de força que se
configura em uma exigência de trabalho ao psiquismo.
Para Freud toda pulsão é ativa e a
pressão é a própria atividade da pulsão, só pode falar em passividade pulsional
quando referido a finalidade.
Ainda em 1915, em texto de O Inconsciente, Freud fala que se a
antítese entre consciente e inconsciente não se aplica às pulsões; se a pulsão não se prendeu a uma ideia
ou não se manifestou como um estado afetivo, nada poderemos saber sobre ela. A pulsão nunca se dá
por si mesma, nem a nível consciente, nem a nível inconsciente; ela só é
conhecida pelos seus representantes: o Representante Ideativo e o Afeto.
O afeto é a expressão qualitativa da
quantidade de energia pulsional. Afetos correspondem a processos de descarga,
cujas manifestações finais são percebidas como sentimentos. Os destinos do
afeto e do representante ideativo são diferentes. Os afetos não podem ser
recalcados. Portanto não se pode falar em afeto inconsciente; os afetos são
sentidos a nível consciente, embora não possamos determinar a origem do afeto
ao sentir suas manifestações.
Os representantes ideativos são
catexias, basicamente de traços de memória.
Os destinos dos
representantes ideativos são: reversão ao seu oposto, retorno em direção ao
próprio eu, recalcamento, sublimação. Os destinos do afeto: transformação do
afeto (obsessões) deslocamento do afeto (histeria de conversão), troca do afeto
(neurose de angústia e melancolia).
A reversão da pulsão em
seu oposto transforma-se em dois processos diferentes: uma mudança da atividade
para a passividade e uma reversão do seu conteúdo. Do primeiro temos o exemplo
do sadismo e do masoquismo. A reversão afeta apenas a finalidade da pulsão
(amor transforma-se em ódio, por exemplo).
As vicissitudes
pulsionais que consistem no fato de a pulsão retornar em direção ao próprio ego
do sujeito e sofrer reversão da atividade para a passividade, se acham na
dependência da organização narcisista do ego e trazem o cunho dessa fase.
O afeto não pode ser
recalcado, isto é, não pertence ao sistema inconsciente, mas ele sofre as vicissitudes do
recalque: o afeto pode permanecer; ser transformado (principalmente em
angústia); ou é suprimido. Suprimir o desenvolvimento do afeto constitui a verdadeira finalidade do
recalque e que seu trabalho ficará incompleto se essa finalidade não for
alcançada. O controle do consciente sobre a capacidade dos seres
vivos de se moverem de
forma voluntária se acha firmemente enraizada, suporta
regularmente a investida da neurose e só cessa na psicose. O controle do
consciente sobre o desenvolvimento dos afetos é menos seguro.
O recalcamento provoca uma ruptura entre o
afeto e a ideia a qual ele pertence, e cada um deles passam por
vicissitudes diversas. O afeto não se apresenta até que o irromper de uma nova apresentação do
sistema consciente tenha sido alcançada com êxito.
Em 1916, Freud define pulsão como sendo
um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como
representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do corpo e alcança
a mente, como uma medida da exigência feita à mente no sentido de trabalhar em
consequência de sua ligação com o corpo. Freud diz que não existe um caminho
natural para a sexualidade humana, não existe uma maneira única de satisfazer
ao desejo, o que dá ao ser humano a sina de estar sempre insatisfeito frente a
este. É em nome destes desvios que ele fala em Pulsão Sexual e não em Instinto,
que é um padrão de comportamento, hereditariamente fixado e que possui um
objeto especifico, enquanto a Pulsão Sexual não implica em comportamento
pré-formado e nem em objeto especifico.
Em 1920, Freud assume em Dois verbetes de enciclopédia: (A)
Psicanálise, (B) Teoria da Libido que suas teorias das pulsões havia, nesta
época, caído em uma perspectiva monista, isto é, um único domínio, se
aproximando da libido de Jung que tanto criticara. Encontramos também, a ideia
do refluxo da libido, que coloca que o aumento da libido objetal significa a
diminuição da libido do eu e vice-versa.
Em 1998, Lacan diz que: A pulsão, tal como
é construída por Freud a partir da experiência do inconsciente, proíbe ao
pensamento psicologizante esse recurso ao instinto com ele mascara sua
ignorância, através de uma suposição de uma moral na natureza. (Lacan, 1998, pág.865).
Em 2005, Garcia-Roza (2005) diz ser a pulsão
o instinto que se desnaturalizou, que se desvia de suas fontes e de seus
objetos específicos; ela é o efeito marginal desse apoio-desvio. A pulsão se apoia
no instinto, mas não se reduz a ele. Zimerman, (1999) diz que o apoio marca não
a continuidade entre o instinto e a pulsão, mas a descontinuidade entre ambos,
transformando o somático em psíquico, com as respectivas sensações das
experiências emocionais primitivas, o indivíduo vai construindo o seu mundo
interno de representações.
2 – Aparelho Psíquico,
Primeira Concepção
Freud, em sua primeira concepção do
aparelho psíquico, do ponto de vista econômico, como governado pelo principio
do prazer, que por sua vez decorre do principio da constância. O aparelho
psíquico trabalharia no sentido de manter a quantidade de excitação nele
presente tão baixa quanto possível, segundo este principio, de maneira que uma
diminuição de excitação corresponderia a uma sensação de prazer e um aumento,
ao desprazer (FREUD, 1920, págs. 17-19)
Na experiência clinica, essa visão
revelou-se insatisfatória diante da descoberta de fenômenos como a:
ambivalência, o masoquismo e a compulsão a repetição, na qual o sujeito repete
uma situação traumática, seja em sonhos ou uma atuação ou de outras formas. A
compulsão a repetição apresentou-se como um paradoxo, uma vez que, se a
tendência do aparelho psíquico era o alivio das tensões no sentido de se evitar
o desprazer, o acontecimento traumático deveria ser esquecido, e não repetido
(FREUD, 1920, págs. 23-29 e 31-37).
Em vista disso, Freud postula a
existência de uma tendência inerente ao organismo vivo a reconduzi-lo a um
estado anterior de coisas, ou melhor, faze-lo retornar ao estado original das
coisas que é o estado inanimado, uma vez que a vida compareceu como um elemento
perturbador externo e esse estado inicial (FREUD, 1920, Págs. 53-54).
Esse impulso será denominado Pulsão de
Morte e através dele Freud ira elaborar sua ultima teoria das pulsões, ao mesmo
tempo em que introduz a segunda tópica do aparelho psíquico. Nesta nova teoria,
a oposição não mais se dará entre pulsões sexuais, a serviço do prazer e
pulsões do ego, de caráter auto conservativo, mas entre Pulsão de Morte e Pulsão
de Vida (FREUD, 1920, pág. 73).
Estas últimas se contraporiam às de
Morte, fazendo com que as unidades vitais mantenham-se em funcionamento e
constituam unidades cada vez mais complexas e evoluídas, de modo a criar
caminhos cada vez mais afastados ou desviados do objetivo final da Pulsão de
Morte, que é o retorno ao inorgânico. A Pulsão de Vida impeliria o organismo em
direção à formas cada vez mais diferenciadas, tendo um caráter unificador e de
natureza sexual. A Pulsão de Morte, pelo contrario, impele o organismo no
sentido de uma descarga imediata, que resultaria, em ultima instancia, no
esforço mais fundamental inerente à toda substancia viva que é o retorno ao
estado inanimado, com a eliminação de toda tensão existente (FREUD, 1920, págs.
53-61 e 83-85).
3 - Economia das
Pulsões
Do ponto de
vista econômico, as manifestações das pulsões sexuais são
ligadas à existência de uma força de uma energia especifica chamada libido.
Em 1999, Zimerman diz
que a catexia, que é o investimento de energia pulsional, alude ao fato de que
certa quantidade de energia psíquica esteja ligada a um objeto, tanto externo
como a seu representante interno, numa tentativa de reencontrar as experiências
de satisfação que lhe estejam correlacionadas.
Depois da experiência
de satisfação, a representação do objeto satisfatório, fortemente investida,
orientara o sujeito para a busca do mesmo objeto. O termo objeto pode designar
tanto o objeto da pulsão quanto o objeto de amor do sujeito.
O objeto do investimento
pulsional pode ser o próprio sujeito, que é o caso do narcisismo.
4 – Libido
Freud também acreditava
que a libido amadurecia nos indivíduos por meio da troca de seu objeto ou objetivo.
Argumentava que os humanos nascem "polimorficamente perversos", no
sentido de que uma grande variedade de objetos possam ser uma fonte de prazer,
sem ter a pretensão de se chegar à finalidade última, ou seja, o ato sexual.
O desenvolvimento psicossexual
ocorreria em etapas ou fases, de acordo com a área na qual a libido está mais
concentrada:
·
Fase Oral - exemplificada
pelo prazer dos bebês ao chupar a chupeta, que não tem nenhuma função vital,
mas apenas de proporcionar prazer;
·
Fase anal - exemplificada
pelo prazer das crianças ao controlar sua defecação;
·
Fase Fálica -
que é demonstrada pela manipulação dos órgãos genitais.
Até então se percebe que
a libido é voltada para o próprio ego, ou seja, a criança sente prazer consigo
mesma. O primeiro investimento objetal da libido, segundo Freud, ocorreria no
progenitor do sexo oposto, esta fase caracterizada pelo investimento libidinal
em um dos progenitores se chama Complexo de Édipo, onde a criança percebe então
que entre ela e a mãe, no caso de um menino, existe o pai, impedindo a comunhão
por ele desejada. A criança passa então a amar a mãe e a experimentar um
sentimento antagônico de amor e ódio com relação ao pai. Ela percebe então que
tanto o amor vivido com a mãe como o ódio vivido com o pai são proibidos e o Complexo
de Édipo é então finalizado com o surgimento do superego, com a desistência da
criança com relação à mãe e com a identificação do menino com o pai.
O termo libido aparece pela primeira vez em Freud no
Rascunho E de sua correspondência com Fliess, ele discute nesta correspondência
a questão da neurose de angustia ligada à transformação da tensão sexual
acumulada em angústia, devido ao fracasso da descarga pelas vias psíquicas, ele
diz: "... a tensão sexual física
aumenta a certo nível e desperta a libido psíquica". Aqui a libido é
tomada enquanto quantidade, podendo ser suficiente ou insuficiente, entretanto,
ela já é claramente definida como psíquica.
Em 1915, no capítulo Teoria da libido, texto escrito após a Introdução ao Narcisismo e publicado nos Três ensaios da Sexualidade, Freud define libido como "força quantitativamente variável que poderia
servir de medida do processo e das transformações que ocorrem no campo da
excitação sexual". Seria uma energia especial que se deve supor
subjacente aos processos mentais em geral. Diz Freud que ao fazer a distinção
entre energia libidinal e outras formas de energia psíquica, expressa a
diferença entre processo sexual do organismo e processo nutritivo.
Em 1920, em Além
do Princípio do Prazer, Freud amplia o conceito de libido pela via do mito,
Eros, e pela biologia, libido das células individuais. Libido está, neste
momento, estritamente ligado à necessidade de manter a dualidade pulsional,
assim como manter o conceito de compulsão à repetição, sobre a qual postula a
pulsão de morte. Para falar de compulsão à repetição, supõe que todo organismo
vivo está determinado historicamente para voltar a um estado anterior das
coisas e aí, ele pode falar em pulsão de morte desde a origem. No entanto, a
pulsão sexual o que claramente visaria.
Algumas
considerações sobre o conceito de libido em Freud e Lacan é a conjunção entre
duas células germinais diferentes; então, onde estaria a repetição?
Isto colocaria por terra a pulsão sexual desde a
origem, caindo no monismo pulsional. Então Freud postula, através de estudos da
biologia, partindo primeiro da Teoria de Weissman, que divide o organismo entre
soma (mortal) e célula germinal (imortal), que nas células individuais haveria
pulsão de morte e pulsão de vida. A libido existente nestas células teria a função
de se ligar a outra, tomar outra célula como seu objeto, o que parcialmente
neutralizaria a pulsão de morte, mas existiriam também as células germinais,
que são as de reprodução, que se reservariam desta função, mantendo a sua
libido, libido narcísica para outra função. Teríamos então aqui, tanto a libido
do objeto como a libido narcísica atuando nas células. Ficando ainda para Freud
explicar, a questão da repetição da pulsão sexual, que só poderia provar
supondo a origem do sexual, como uma força para unir. Recorre então, ao mito de
Eros de Platão, dizendo em 1921, na Psicologia das massas: "Em sua função, origem e relação com o amor
sexual, o Eros do filósofo Platão, coincide exatamente com a força amorosa, a
libido da psicanálise." O mito de Aristófanes, em que um ser original
haveria sido dividido em duas partes, desejando sempre se reunir a outra parte,
possibilita que Freud possa colocar a compulsão à repetir em Eros e mais ainda,
traz em sua estrutura intrínseca a questão da divisão do sujeito.
Em 1921, Freud define libido dizendo: "Libido é uma expressão extraída da Teoria
das Emoções”. Damos este nome à energia considerada como uma magnitude
quantitativa, daquelas pulsões que tem a ver com tudo o que pode ser abrangido
sob a palavra "amor".
Em 1923, em O
Eu e o Isso diz: "Dificilmente
se pode duvidar que o princípio do prazer serve ao Id como bússola em sua luta
contra a libido - a força que introduz distúrbios no processo de vida".
Daí podemos extrair, que a libido, ao mesmo tempo em
que vem de uma força para reunir, ligar (Eros) é por isto mesmo quem traz
desordem, ao se ligar a outro diferente, o que impossibilita um nível de tensão
igual a zero, que é a busca da pulsão de morte.
Neste percurso teórico da obra de Freud sobre a
libido, podemos destacar que libido:
·
É energia;
·
Visa satisfação;
·
É móvel, quer dizer, investe e
desinveste objeto, se desloca;
·
É psíquica, investe necessariamente nas
representações do objeto ou objetivo;
·
Não se confunde com Eros, é a energia de
Eros;
·
Tem a evolução de sua teoria
concomitante com a evolução da teoria das pulsões;
·
Tem sua imagem como uma ameba com seus
pseudópodes.
A partir deste trabalho sobre a libido em Freud,
surgiu a questão: em Lacan, como o conceito de libido é tomado?
Percorrendo o texto Posição do Inconsciente e o Seminário 11, de 1963 e 1964, vemos
que:
·
Freud fala de energia;
·
Lacan fala em superfície organizando o
campo de forças;
·
Freud dá a imagem de uma ameba com seus pseudópedes
(são estruturas citoplasmáticas
encontradas em alguns eucarióticos, por exemplo em Amoebozoas)
·
Lacan a imagem de um órgão;
·
Freud traz o mito de Aristófanes para
falar sobre a origem da libido;
·
Lacan constrói o mito do ovo.
5
- Algumas considerações sobre o Conceito de Libido em Freud e Lacan
Houve uma descontinuidade entre o conceito de libido
em Freud e Lacan, propiciado pelo desenvolvimento da física, ou seja, pelo
corte entre a física clássica e a física moderna.
O princípio da relatividade de Einstein trouxe
importantes implicações na evolução do conceito de campo. A noção de campo
devida a Newton diz que são os corpos, as partículas materiais e não o campo
que tem realidade física. As ideias relativistas tendem a desvincular os campos
das partículas, dando-lhes existência real.
A visão clássica, mecanicista do mundo, baseava-se
no conceito de partículas sólidas e indestrutíveis deslocando-se no vazio.
A física moderna trouxe à tona uma revisão radical
dessa representação, levando não apenas a uma noção inteiramente inédita do que
sejam partículas, mas transformando o conceito clássico de vazio. Nas teorias
quânticas de campo a distinção entre partículas e o espaço circunvizinho perde
a nitidez original e o vazio passa a ser reconhecido como uma quantidade
dinâmica.
Lacan toma então, a teoria eletromagnética, que foi
a primeira teoria física formulada de acordo com o princípio da relatividade e
mais especificamente o teorema de Stokes que diz que o fluxo que provém, da
superfície é rotacional, é constante e é igual a da borda fechada em que se
apoia.
Isto permite a ele dizer em Posição do Inconsciente que: "A imagem que nos dá a libido pelo que ela é, ou seja, um órgão, ao qual
seus costumes a aparentam bem mais do que a um campo de forças. Digamos que é
como superfície, que ela ordena este campo de forças". “O Teorema dito de Stokes nos permitiria
situar na condição que essa superfície se apoia sobre uma borda fechada, que é
a zona erógena, a razão da constância, da urgência do impulso sobre a qual
Freud insiste tanto”.
Diz também no
Seminário 11: "A libido não é algo
de fugaz, de fluído, ela não se reparte, nem se acumula, como um magnetismo,
nos centros de focalização que lhe oferece o sujeito, a libido deve ser
concebida como um órgão, nos dois sentidos do termo, órgão-parte do organismo e
órgão instrumento", ou seja, a imagem que nos dá Lacan da libido é de
um órgão-parte do organismo, na medida em que ela vem se inserir em um dos
orifícios do corpo, no buraco cuja borda é a zona erógena e ao mesmo tempo como
órgão instrumento, enquanto superfície de movimento rotacional que introduz o
limite do ser do organismo, fazendo seu recorte.
A ideia de superfície e rotacional, enquanto em
Freud, a libido com a imagem de uma ameba em relação com seus pseudópodes, dá
uma ideia de movimento linear de ida e volta, de investimento e retirada de
investimento. Sustentado nesta física, Lacan utiliza outro mito para falar da
origem da libido, na medida em que o mito de Aristófanes acentua a divisão e
Lacan já tem uma física que propicia a ele falar de algo que se produz quando
da divisão. Ele fala então, do fantasma que surge pelo mesmo lugar que nasce o
homem, um fantasma de forma infinitamente mais primária de vida.
Ele considera um ovo no
ventre vivíparo, sem casca e que cada vez que se rompem, as membranas, é uma
parte do ovo que é ferido, mas estas membranas devem perfuradas para que o ser
fecundado nasça. Ao quebrar o ovo se faz o Homem, mas também a homelete (com
H). Esta Homelete teria como
característica ser ultra-achatada, de difícil destruição, imortal por ser
cissípara e guiada pelo puro instinto de vida.
Lacan, assim como
Freud, utiliza o exemplo da biologia em nível das células para marcar a relação
da libido, do sexual, com a morte. Enquanto Freud acentua neste exemplo o
caráter de aglutinação, de reunião das células individuais. Lacan acentua a
redução cromossômica que se processa na reprodução das células germinais. Freud
diz que no exercício dessa função de reunião, algumas células tem que morrer e
Lacan que "a libido marca a relação na qual o sujeito toma parte da
sexualidade, com sua morte".
Então, pelo
desenvolvimento da física, Lacan pode tomara libido com ligação com aquilo que
falta, a perda, tornando-a como órgão irreal, precedendo e condicionando o
subjetivo, por estar em contato direto com o real. Lacan tinha a possibilidade
da Física moderna que fala de um vácuo físico, como é denominado na teoria de
campo, que não é um estado de um simples nada, mas contém a potencialidade para
todas as formas do mundo das partículas, enquanto Freud, apesar da perda já
estar colocada em alguns pontos, tem a física falando de partículas e da força
entre essas partículas. O que ele tem para acentuar, é a divisão, e desta
divisão trazer a libido para a psicanálise.
CONCLUSÃO - Na obra de Freud, existem duas teorias sobre as
pulsões. Um dos pontos importantes deste trabalho é mostrar que cada uma dessas
teorias utiliza um conceito diferente de pulsão. O que muda não é apenas a
concepção sobre quais são as pulsões fundamentais mas também se altera a
própria concepção do que é uma pulsão. Outro ponto importante é que a segunda teoria
não substitui inteiramente a primeira, mas a engloba, com algumas alterações.
Isto também é fonte de confusão, pois, a partir de 1920, o mesmo termo pode ser
empregado em sentidos diferentes, segundo o contexto.
Sobre libido, imaginamos
o termo ligado apenas na sexualidade. Com este estudo vi que libido é muito
mais abrangente e constitui toda experiência de prazer, seja para nos
relacionar com as pessoas, com nosso trabalho e com tudo que nos cerca. Fazemos
tudo melhor, com mais energia, quando temos prazer no que estamos fazendo.
BIBLIOGRAFIA
FREUD, S. – Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completa de Sigmund Freud – Rio de
Janeiro, Imago, 1996
- Projeto para uma
Psicologia Cientifica, 1890
- Três Ensaios sobre a
Teoria da Sexualidade, 1905
- Sobre o Narcisismo: uma
introdução, 1914
- Pulsões e suas
Vicissitudes, 1915
- Além do Principio do
prazer, 1920
- O Ego e o Id, 1923
FREUD, S. 1915 – O Inconsciente – Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Vol. XIV – Rio de Janeiro, Imago,
1996
LACAN, Jacques Marie-Emílie – Escritos – Rio de
Janeiro, Jorge Zahar Editora, 1998.
ROZA, Luiz Alfredo Garcia – Freud e o Inconsciente
– Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editora, 2005
ZIMERMAN, David E. – Fundamentos Psicanalíticos:
teoria, técnica e clínica – Porto Alegre, Artmed, 1999
Algumas
Considerações sobre o conceito de libido em Freud e Lacan - LETRA FREUDIANA -Ano
XI – nº 10/11/12 págs. 272-275
FREUD.
S. - Correspondência à Fliess – Rascunho E, vol. I. - Ed. Standard Brasileira,
1976.
https://psicologado.com/abordagens/psicanálise/introducao-ao-conceito-de-pulsao
Psicanalista Clínica Mariza Pizzi - CRPC/RJ 396/2018