quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Minha História - PARTE 3

UMA FAMILIA DESTRUÍDA - 1989

Em 1989 comecei a trabalhar como secretária de um curso pré-vestibular onde fiquei por 1 ano e pude ajudar em casa, eles se separam, mas meu pai continuava conosco, mas na minha cabeça a saída dele lá de casa era inevitável, as brigas eram normais e constantes, cada vez com mais gritos e acusações independente do horário. Meu pai naquele período havia se aposentado e para não ficar parado decidiu trabalhar como motorista de ônibus. E chegava durante semanas de madrugada, até então, nós não sabíamos quem era a namorada do meu pai e minha mãe achava que assim como foram às outras amantes, essa também seria passageira, mas apesar de tantas traições foi o primeiro caso de separação, apesar de estarem debaixo do mesmo teto.
Em 1990, fui trabalhar em uma grande empresa, era um empresário que possuía alguns postos de gasolina da bandeira Texaco, trabalhava como financeira dos postos no escritório central.
Tinha um bom trabalho, me orgulhava do que fazia, ganhava bem e o que eu imaginava aconteceu; meu pai saiu de casa! Ele chegou uma noite lá em casa, estávamos eu e minha mãe vendo TV e ele anunciou que veio pegar as coisas dele. Não agüentava mais ver minha mãe sofrer e estava com pressa para que aquilo tudo terminasse, fui atrás dele e o ajudei a arrumar as malas, quando ele saiu; se despediu de mim sorrindo, beijou os 2 cães que tínhamos e foi embora sem olhar para trás, o nosso cão vira-lata Tiquinho chorou muito, na realidade a noite toda. Eu não derramei uma lágrima e minha mãe na minha frente também não chorou, mas tenho certeza que chorou sozinha em seu quarto.
Porém, como filha de pais separados era muito estranho encontrar com meu pai na rua, até que um dia ele me pediu para falar com a mãe dele a Avó Carolina, se ele podia ocupar um quarto na casa dela que estava vazio. Não analisei direito a situação, até porque estava sozinha no meio de um tiroteio de casal e fiz o pedido, meu pai largou minha mãe por causa de uma menina de 18 anos, a minha idade, até então eu não sabia, minha mãe escondeu o que pode de mim, pois as pessoas iam a nossa casa contar para ela o que sabiam, ou melhor, todos já sabiam por que “cara de pau” era o forte do meu pai e ele não escondia o namoro de ninguém, eu fui à última, a saber, fiquei em choque e o odiei como pude!
Mas mesmo assim falei com a minha avó e ela aceitou, claro, ambos se odiavam, mas era filho e uma semana depois ele estava no quarto, porém, a casa da minha avó era no mesmo terreno da minha.
As chegadas e as saídas dele eram doloridas e humilhantes para a minha mãe, foi quando ela resolveu me dar detalhes de coisas que eu não sabia, que haviam acontecido antes da saída dele lá de casa:
• Tínhamos um Chevette marinho e queria aprender a dirigir e ele não deixava, porém, haviam visto ele ensinando a garota a dirigir naquele carro que minha mãe o ajudou a comprar;
• Teve um sábado que minha mãe resolveu ir à costureira que ficava próxima a casa da menina e o casal passou bem devagar no carro para humilhar minha mãe, pois eles reduziram a velocidade e buzinaram quando estavam próximos a ela;
• Contavam a minha mãe que haviam, visto o casal fazendo compras em boutiques da cidade e para minha mãe não havia dinheiro;
• Um vendedor de produtos de minas foi em nossa casa nos cobrar um valor alto de compras que meu pai havia feito de queijos e doces que nunca chegou à nossa mesa, não preciso escrever para onde foi;
• Minha mãe havia feito mastectomia (retirada do seio direito), em 1981 por causa de um câncer, meu pai se virou na cama, dormindo, e atingiu o seio dela com o cotovelo, deu um caroço mas ela deixou passar, um ano depois o caroço havia ficado maior que uma tampa de refrigerante e ela procurou um médico que fez a cirurgia em caráter de urgência, por causa disso meu pai disse há um conhecido que chamou a atenção dele para a bobagem que estava fazendo em largar minha mãe e a resposta dele foi: “Sou eu quem atura aquela aleijada!”, enfim, isso chegou rápido aos ouvidos de minha mãe.
• E muito mais que vou poupar vocês de saber.
Claro que me arrependi de ter aberto a minha boca e a minha ira pelo meu pai só se agravou mas ao mesmo tempo eu sentia pena pelo buraco que ele estava entrando.
Eles se separam judicialmente, a pensão continuou e ele fez o favor de dizer na frente do Juiz na audiência de conciliação que: “A Ivete foi boa para mim nesses 25 anos de casado, mas hoje, eu prefiro a minha menina!” e sorriu como se tivesse acabado de proferir um elogio, os presentes se constrangeram e a audiência terminou ali mesmo, penso nisso e imagino a vergonha e a dor daquela que por 25 anos, foi esposa, companheira, dona de casa, caprichosa com tudo a ponto de secar as camisas dele no varal em um cabide para não dar marcar de pregador, enfim...
Isso aconteceu em Junho de 1990!!
Ficamos eu, minha mãe e meu irmão que quando vinha do Rio sempre trazia algo para ela, estávamos vivendo, ma sabíamos da dor e das notícias que não paravam de chegar!

MINHA CONVERSÃO - 1990

Eu tinha uma amiga, Wilma Militão, uma modelista, evangélica da Igreja Cristã Maranata, que fazia minhas roupas e nós conversávamos muito, ela me ouvia por causa dos problemas que eu tinha em casa e ela sempre me convidava para ir visitar a igreja dela um dia. Claro que quando o convite surgia, eu arrumava um jeito de ir embora ou fugir do assunto, pois ela me dizia que Jesus poderia me ajudar.
Sobre religião, fui criada no espiritismo com o pé no candomblé, explico: nós sempre íamos à rezadeiras, benzedeiras, cartomante, quiromante, umbanda, kardecismo e candomblé. Eu era do tipo que pedia permissão para cortar o cabelo, tomava “passe” constantemente e vazia o que os guias mandavam, com a frase “creia em Deus e não em mim” seguíamos nossa vida prestando obediência aquilo. Aos 7 anos meu Pai me levava a centros de candomblé onde bebíamos cachaça quando a garrafa passava por todos. As sextas ele se vestia de branco, as quartas de preto e por aí vai.....
A Wilma quando me convidava para ir aos cultos e pensava que era bobagem pois eu servia á Deus também e, confesso, tinha horror a crente, os achava chatíssimos com essa história de aceitar Jesus, mesmo por que, por onde eu andava não se falava no sacrifício de Jesus por amor a nós todos e nem no Espírito Santo de Deus.
Mas a Wilma foi persistente durante anos, até que em 20 de outubro de 1990 eu aceitei o convite dela para ir a um culto que era realizado na casa de um amigo, Fernando Adão, que nós tínhamos em comum. Cheguei à casa do rapaz e vi pessoas que eu conhecia do ônibus que usava para ir trabalhar, mas estava com muito, muito medo pois nunca havia estado em um culto evangélico. Aí, entrei na casa e já havia um pastor que me disse “A Paz do Senhor”, não sabia o que era então sorri e disse que era um prazer conhecê-lo, ele largou a minha mão e disse de uma forma extremamente grosseira: “o bom de dar A Paz do Senhor e não ser correspondido, é que a paz nos volta no ato”.
Óbvio, que depois disso, houve um constrangimento geral e tudo que a Wilma havia me dito, caiu por terra mas sou racional, ignorei o ignorante, e continuei na casa, o culto começou com louvores que achei muito bonito mas tive medo de acompanhar pois caso errasse poderia levar outra chibatada, aí outro pastor pregou e eu adorei, seu nome Pastor Demerval, um homem educado e inteligente, que parecia que sabia de todos os meus problemas, enfim, eu gostei!!! Aquele culto acabou e senti vontade de voltar, eu estava com muito medo naquele dia.
No outro sábado, 17 de outubro de 1990, eu a procurei e me ofereci para ir ao culto, durante a semana eu até cantarolei uns corinhos persistentes que havia ouvido, pois é, volte e aquele dia decidi que estava num caminho errado e que eu queria e precisava daquele Jesus na minha vida. Virei crente!
Comecei naquela casa e aos poucos fui freqüentando a igreja aos domingos, depois sábado e domingo, fui gostando mais e quando vi já estava indo a semana toda e feliz, feliz da vida. Sobre o pastor ignorante nunca mais vi e nem ouvi falar, mas o Pastor Demerval, foi meu primeiro pastor e até hoje tenho um pouquinho dele, com todo respeito que a unção dele merece e que eu respeito muito!
Minha mão via a minha mudança, ria mas ao mesmo tempo ficava feliz com mais uma virada na minha vida e dessa vez para melhor.

A MORTE ANUNCIADA DA MINHA MÃE - 1991

Continuava na Igreja Cristã Maranata e minha mãe às vezes ia comigo e também gostava dos cultos.
Em março de 1991, eu ainda trabalhava no escritório central dos postos de gasolina da Texaco, cheguei em casa para almoçar e me assustei com a casa do lado de fora, literalmente, ela veio me receber no quintal sorrindo e disse que estava fazendo uma faxina pesada e queria que eu escolhesse o que seria colocado para dentro de casa, pois se ela morresse de um dia para outro que eu me perderia de tanta coisa que tínhamos. Ri dela, falei que ela tinha pirado mas cumpri a ordem e comecei a escolher as coisas, a faxina durou uma semana, mas a casa estava ficando impecável.
Sobre meu pai, bem, Seu Ary no final do ano saiu da casa da minha avó e foi morar em outro lugar que eu preferi não saber onde era, continuava firme com a ninfeta dele pois sempre que ia pegar ônibus para ir para minha casa algum motorista me contava alguma coisa, sobre eles brigando aos berros, um batendo no outro, ela chamando ele de velho, ele chupando o dedo do pé dela na praça enfim, e outras “cositas” mais, mas o que me preocupava é que apesar do silencio de minha mãe sobre ele, eu sabia que de alguma forma aquilo também chegava aos ouvidos dela. E meu pai passava de um homem serio e respeitado a um velho ridículo atrás de uma ninfeta, mas, cada um tem o que merece, e ele merecia o que estava acontecendo, afinal a Bíblia diz que: “colhemos o que plantamos, pois há tempo de plantar e tempo de colher”. Sobre a minha conversão a Jesus, ele me dizia que era bobagem e que logo eu voltaria ao espiritismo, ria das minhas saias que eu ás vezes usava, pois sempre gostei de roupa comprida, nunca gostei de ser vista apesar dos trabalhos de modelo que fazia, sempre usei roupas fechadas e cobertas e assim sou eu até hoje. Meu irmão continuava no Rio e me chamava de maluca!
No dia 12 de março ela fazia aniversário, mas nunca nos apegamos à data, mamãe me dizia que presente nós temos que dar por amor e não por obrigação, mas sempre comprava algo para ela. Todos os meses eu lhe dava uma mesada de 10% do meu salário ou mais, para que ela comprasse as coisinhas dela sem mexer no dinheiro da pensão que recebia, e também comprava presentes. Naquele dia levei para ela vários chinelos de pano, um de cada cor, ela adorava combinar o chinelo com a roupa que vestia, mesmo em casa, minha mãe não andava desarrumada, pelo contrário, ela me dizia que era em casa que tinha de se arrumar e não para ir para a rua, para ver pessoas que nós nem conhecemos, era engraçado vê-la fazer faxina de maquiagem, cabelo penteado e chinelo combinando com o vestido.
Ela abriu o embrulho e disse assim: “quantos chinelos (azul, rosa, amarelo, preto, verde e vermelho eram de algodão com laços e bordados), ainda bem que calçamos o mesmo tamanho”, desconversei pois sabia que ela iria dizer que quando morresse os chinelos iriam servir em mim, eu achava que a idéia dela estava fixa nisso e tinha razão o mês se seguiu e ela só usava um para deixar os outros novos para mim.
No final de maio minha mãe começou a reclamar de dores no fígado e quis procurar o médico oncologista que cuidava dela, ela já havia sido dispensada da quimioterapia havia anos e só ia em consulta de revisão, estranhei, mas ela foi e disse que estava bem. O medico mandou chamar meu pai que logo depois me procurei dizendo que: “o Doutor, me deu uma bronca muito séria, por que ele já tinha me avisado que sua mãe não poderia se aborrecer e a nossa separação trouxe muito aborrecimento para ela, por isso, o câncer dela voltou e está em estado avançado no fígado, você vai ter que ser forte e ajudá-la”.
Perdi o chão com a declaração feita por ele, mas eu tinha fé de que Deus faria alguma coisa, fui para casa anestesiada e a irmã dela, que nós chamamos de Tia Queca, passou a ficar conosco para nos ajudar, ela sentia dores e não podia fazer muita coisa e sua quimioterapia havia recomeçado, numa tentativa de aliviar a dor.
No final de junho as dores aumentaram e ela passou a ter dificuldade para andar e ficava o dia todo no sofá, pois ali via TV e recebia visitas.
No dia 12 de julho, sexta-feira, eu saí do escritório para almoçar em casa, peguei minha comida e fui para a sala para fazer companhia a ela, eu sentei numa poltrona e ela ficou me olhando, perguntei por que ela estava fazendo aquilo, a resposta que soa até hoje no meu ouvido foi: “Sinto que hoje é a última vez que vejo você almoçar aqui comigo” e começou a chorar copiosamente, eu falei com ela para parar de chorar, caso contrario, não almoçaria mais em casa pois não gostava de vê-la chorando, terminei fui trabalhar e fiquei pensando naquilo.
Saí do escritório por volta das 19H e do nada, comecei a chorar feito louca, atravessei a Rua do Imperador em prantos e fui para a Praça do CENIP, conhecida em Petrópolis, e sentei e chorei até as 22H sem conseguir explicar, eu sentia só uma grande perda, mas eu pouco falava só chorava, as pessoas passavam e se preocupavam, eu fazia sinal de “OK” com as mãos e continuava chorando. As 22:30 peguei o ônibus para casa e ela estava bem, porém minha tia a esperou dormir e pediu para eu ver um balde onde ela havia vomitado à tarde, havia pedaços do fígado dela, tentei falar com o médico mas ele estava viajando em Conferência, chegaria só na segunda-feira.
No sábado dia 13, fui trabalhar normalmente, almocei no escritório para poder sair mais cedo e às 16H me liberaram para eu ir para casa. Passei na Padaria Petrópolis e comprei o pão que ela gostava e fui para casa. Quando cheguei meu irmão já estava, havia chegado do Rio para participar de uma festa e trouxe muitas frutas. Nós brincamos com ela por causa dos mimos e ela riu.
Às 17:30H a ouvi dizendo que estava com sede, fui até a sala e perguntei se ela queria água ou suco, ela estava pálida e me disse que se sentia mal e cansada. Achei que fosse pressão baixa e minha tia pediu que fosse até a casa de uma vizinha que media pressão, chovia muito, mas eu saí correndo na chuva e fui até a casa da Dona Odilis, chamei por várias vezes, mas ela não estava, desci correndo e gritei a minha tia do portão dizendo que ia buscar um taxi para levarmos minha mãe ao hospital mais próximo, desci correndo e quando cheguei com o táxi, o Ademir, nosso vizinho, já estavam com ela no colo no portão, a colocamos no taxi e seguimos para o Alcides Carneiro, em Correas.
No taxi, comecei a orar e falei com Deus: “Meu Senhor, como filha eu quero que ela fique viva comigo, mas como serva eu quero que a tua vontade seja feita”, olhei no relógio e eram 18:10H quando entramos na emergência do hospital.

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